8.3.13

O GRANDE DESAFIO!

em nossa cultura patriarcal temos crescido, de modo geral, na ameaça

sem dar-se conta, pais e professores educam as crianças ameaçando-as para que se desenvolvam

dizemos: "come tudo, senão você não vai crescer", "faça isso senão você não ganha aquilo", "seja legal senão eu vou ficar chateada com você"...

outros, de modo menos sutil, já ouviram de seus professores: "assim você não vai passar de ano", "desse jeito você vai ser um fracassado", "aposto que daqui alguns anos vou te ver nas paginas policiais"...

entre nós, adultos, também trocamos ameaças, dizendo: "se nossa relação continuar assim vamos ter que dar um tempo", "se você continuar rendendo tão pouco nesse trabalho, vou ter que dispensar você"...

de modo mais agressivo, de modo mais gentil ou de modo mais explicativo, fomos educados, educamos e nos relacionamos através da ameaça

inclusive nos sentimos ameaçados por nossos filhos quando eles se atrevem a não nos obedecer e por isso reagimos com contra-ataque, e as vezes de modo bem deselegante

um dos recursos do poder é justamente a ameaça

a ameaça nos paralisa, estagna muitos fluxos - emocionais, racionais, intuitivos - gera doenças em nosso corpo, provoca ansiedade, panico, gastrite e muitos outros sintomas recorrentes nos dias de hoje, em todas as idades

queremos acreditar que o problema está no outro, que o outro precisa resolver nossa frustração, nosso medo, nossa confusão, nossa impotência

porem do mesmo modo que o outro não é a causa dos meus sofrimentos, a ameaça não precisa necessariamente me fazer sentir ameaçado

quando nos damos conta da ameaça como recurso do poder e transmutamos para potencia, a ameaça torna-se desafio

ao reconhecer uma ameaça, podemos transforma-la em desafio

o desafio libera fluxos, fortalece, potencializa

não precisamos nos blindar contra ameaças, precisamos saber transmuta-las em desafio

no desafio, já não creio que o outro é a causa do problema, e que o outro precisa mudar para que minhas emoções mudem

no desafio, eu assumo o que sinto, reconheço que eu produzo aquela emoção e que está em mim a chave da mudança

a relação com o outro pode despertar ou revelar o meu ressentimento, mas não introduziu nada em mim

exemplo pratico (adoramos um exemplo!)

outro dia ao assistir o documentario muito alem do peso (recomendo), senti-me ameaçada pelos vilões dos falsos alimentos industrializados, na ameaça, minha primeira reação foi querer matar o dono de alguma dessas empresas multi nacionais, tamanha a indignação e dor que senti

ao reconhecer que as emoções eram minhas, tirei elas da estagnação e coloquei-as em fluxo

em outras palavras, deixei de alimentar a reação das emoções, planejando um contra-ataque, e perguntei a mim mesma "qual é a sua parte nisso tudo", "qual a sua responsabilidade na sustentação desse modo de alimentar-se"

e por mais que eu seja considerada uma pessoa que cuida muito bem da alimentação, fui até a dispensa e a geladeira de casa e descartei 20% do que estava la

e desde então não consegui mais consumir alimentos industrializados

coisa que eu acharia impossível, e que tem sido mais fácil do que eu imaginava

a luta é em nós!

não precisamos destruir o poder fora de nós, precisamos desinvesti-lo em nós mesmos

não dependemos da atitude do outro, dependemos da nossa atitude, pois quando deixamos de investir (consumir, acreditar, usar) algo, aquilo perde força e morre, sem ameaças

esse é o grande desafio








5 comentários:

Anônimo disse...

Ana,

Quando algo perde o crédito em nossa mente, fica fácil de descartar. Acho que a maior dificuldade (ou desafio) não é descartar o que perde o crédito. O desafio maior, eu acho, é saber quando estamos sendo desafiados ou quando estamos sendo manipulados. Afinal, esse "caminho mental" que fazemos, já foi há muito tempo mapeado pelos profissionais da mídia e marketing.... Existe uma "luta invisível" pelo nosso "investimento" e o investimento em uma coisa acaba sendo o "desinvestimento" em outras. Ou seja, o "desinvestimento" tb é objeto de interesse e aplicação de $$ por parte do capital.
Eliene

Anônimo disse...

Ana, gostaria de saber se vc e a Ana Thomaz que procuro... Vc fez relato de parto no AMA? Gratissima.

Ana Thomaz disse...

não sei se algum dos meus relatos de parto está na AMA, com certeza estão no GAMA...qualquer coisa me escreva no email anavidaativa@gmail.com
beijo

Unknown disse...

oi ana,

conheci vc e sua família lá na casa jaya...
há mto tempo que busco por verdades na educação e vc traz isso...
ontem vi seu diálogo com o mauricio curi... achei mto legal qdo vc disse que não quer lutar, mas merecer seus direitos... tudo que vc diz faz sentido pra mim... é como se eu já sentisse isso...

Unknown disse...

Oi Ana,

estava pesquisando sobre crônicas e encontrei uma do Mário Prata que fala sobre "crianças criadas com liberdade."
Você conhece?
Eu já a havia lido há mais de um ano atrás. Da primeira vez que li, achei engraçada. Mas agora, achei triste. Gostaria de saber sua opinião a respeito...

Obrigada.


Na fila da liberdade

[...]

Pois foi numa dessas filas que o fato se deu.

Era uma bela fila, de umas dez pessoas. E em supermercado, com aqueles carrinhos lotados, a gente ali olhando a mocinha tirar latinha por latinha, rolo por rolo de papel higiênico, aquela coisa que não tem fim mesmo. E naquela fila tinha um garotinho de uns dez anos, que existe apenas uma palavra para definir a figurinha: um pentelho. Como muito bem define o Houaiss: “pessoa que exaspera com sua presença, que importuna, que não dá paz aos outros”.

Pois ali estava o pentelhinho no auge de sua pentelhação. Quanto mais demorava, mais ele se aprimorava. E a mãe, ao lado, impassível. Chegou uma hora que o garoto começou a mexer nas compras dos outros. Tirar leite condensado de um carrinho e colocar no outro. Gritava, ria, dava piruetas. Era o reizinho da fila. E a mãe, não era com ela.

Na fila ao lado (aquela de velhos, deficientes e grávidas), tinha um casal de velhinhos. Mas velhinhos mesmo, de mãos dadas. Ali, pelos oitenta anos. A velhinha, não aguentando mais a situação, resolveu tomar as dores de todos e foi falar com a mãe. Que ela desse um jeito no garoto, que ela tomasse uma providência. No que a mãe, de alto e bom tom:

-Educo meu filho assim, minha senhora. Com liberdade, sem repressão. Meu filho é livre e feliz. É assim que se deve educar as crianças hoje em dia.

A velhinha ainda ameaçou dizer alguma coisa, mas se sentiu antiga, ultrapassada. Voltou para a sua fila. Só que não encontrou o seu marido, que havia sumido.



Não demorou muito e voltou o marido com um galão de água de cinco litros e, calmamente, se aproximou da mãe do pentelho, abriu e entornou tudo na cabeça da mulher.

-O que é isso, meu senhor?

O velhinho colocou o vasilhame (que palavra antiga) no seu carrinho e enquanto a mulher esbravejava e o pentelho morria de rir, disse bem alto:

-Também fui educado com liberdade!!!

Foi ovacionado.