15.3.12

DESCONCEITUALIZANDO A DESESCOLARIZAÇÃO

os sentidos das palavras são dinâmicos, ainda mais quando se trata de uma palavra que não consta no dicionário como o caso da desescolarização.

porem não acredito que a busca deva ser a clareza verbal, porque procuro não ter uma vida diária conceitual e sim viver em ato.

muitas vezes acreditamos em conceitos que não praticamos em nossa vida cotidiana.

primeiro, eu comecei a viver a desescolarização, antes mesmo de pensar nesse termo, só não queria ser mais uma no coro "queria muito viver de outra maneira, mas a realidade não permite!"

a quem estamos remetendo a responsabilidade dos nossos modos de vida?

de onde veio a ideia que a realidade está pronta e que precisamos aprender a fazer parte dela??

onde aprendemos a sentir tanto medo do aqui e agora???

eu acredito ter aprendido tudo isso e muito mais (competitividade, comparação, julgamento, especulação, ser carreirista, a desconexão corpo/mente...) na escola, e se não foi na escola, certamente foi la que por muito tempo pratiquei esse modo de vida.

para mim o problema central da escolarização é que além de praticar todos esses conceitos que citei acima, os alunos estão a serviço das aulas, da programação pedagógica, do conhecimento, dos conceitos; fazendo com que os alunos se afastem cada vez mais de si mesmos e seus desejos, a ponto de ser necessário fazer um teste vocacional para saber em que área vai render melhor, a serviço de um sistema que precisa continuar a ser alimentado para existir.

a escolarização nos torna negligentes em nossas vidas e relações.

porem a escolarização é um padrão, então primeiro caí na armadilha de querer mudar o padrão, rejeitando um modelo escolar vigente e aceitando um novo modelo escolar, até perceber que continuava presa em padrões e em sistemas.

por isso a desescolarização não é um padrão, não é uma alternativa, não é uma rebeldia contra a escola.

desescolarização é abrir mão de todas essas praticas escolarizadas, é olhar para si mesmo nas relações, é criar seus desejos ao dar-se conta de como está o mundo, seu país, sua cidade, sua comunidade...

é tornar-se diligente em nossas vidas e relações.

krishnamurti escreve lindamente sobre esses dois termos, em suas palavras:

"...diligência implica cuidado, vigilância, observação e um profundo senso de liberdade...a negligência é indiferença, preguiça; indiferença para com o organismo físico, para com o estado psicológico e indiferença para com os outros...
...o habito, a rotina é o inimigo da diligência - o habito do pensamento, da ação, da conduta...a mente que é diligente não tem habito, não há padrão de resposta..."


na minha experiência foi com a técnica alexander que aprendi que não existem bons e maus hábitos, existem hábitos, e só o viver no presente dissipa o habito.

não é através dos idealismos, dos conceitos, nem do conhecimento, que vamos transmutar nosso modo de vida, e sim pelas ações, pelas relações, pelo cultivo do "entre", não é dentro (de nós) nem fora (na sociedade), a realidade se cria no "entre" o dentro e o fora.

a desescolarização deixa esses "entres" vivos, sendo sempre um ato de criação.