25.2.12

SOCIEDADE HIPÓCRITA

uma das questões mais recorrentes quando se fala em unschooling é o mito da socialização.

todos que praticam o unschooling sabem que esse não é absolutamente um problema real para as crianças que não frequentam escolas.

mas, parece-me, que os frequentadores de escolas do nosso sistema vigente estão sofrendo um processo anti social sem se darem conta disso.

a escola cria sérios problemas de socialização.

para desenvolver essa afirmação, vou usar um trecho de um texto brilhante do biólogo humberto matura do livro - a árvore do conhecimento, pg269.

"...a aceitação do outro junto a nós na convivência, é o fundamento biológico do fenômeno social. Sem amor, sem aceitação do outro junto a nós, não há socialização, e sem esta não há humanidade. Qualquer coisa que destrua ou limite a aceitação do outro, desde a competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica, destrói ou limita o acontecimento do fenômeno social. Portanto, destrói também o ser humano, porque elimina o processo biológico que o gera. Não nos enganemos. Não estamos moralizando nem fazendo aqui uma prédica do amor. Só estamos destacando o fato de que biologicamente, sem amor, sem aceitação do outro, não há fenomeno social. Se ainda se convive assim vive-se hipocritamente, na indiferença ou na negação ativa."

sendo assim, conviver socialmente é praticar a aceitação mutua incondicional.
aceitar verdadeiramente a diferença.
viver de modo colaborador, afirmando as diferenças, fazendo bom uso delas.

paradoxalmente, a criança começará a ter gosto pelo social quando entender-se como singularidade.
por isso um caminho necessário para tornar-se um ser social, é conhecer-se a si mesmo.

nenhum conhecimento que não nos afete diretamente, poderá ser útil para nosso desenvolvimento social.

por essas e outras a escola com suas praticas de competição, comparação, punição, classificação, ideologias, posse da verdade, etc, etc, torna-se um ambiente potencialmente anti social e gerador do conceito - sociedade hipócrita.

já não percebemos mais o quanto nos relacionamos de modo hipócrita com as crianças, quando nos dirigimos a elas mudamos o tom da nossa voz natural, as subestimamos intelectualmente, queremos ensina-las o tempo todo porque acreditamos que sabemos a verdade, somente a aceitamos de modo condicionado.

não estou dizendo que nós pais e educadores não temos nada a fazer em relação as crianças.
temos que criar um ambiente propício para que ela se escute, se conheça, perceba sua plasticidade, sua habilidade em se transformar, em se recriar.

para isso, é inevitável que esse adulto se escute, se conheça, saiba da sua plasticidade e de sua habilidade em transformar-se. em recriar a si mesmo, a sua realidade, a sua sociedade, o seu mundo.

22.2.12

CRUDIVORISMO

nosso projeto de educação ativa contempla a mudança de muitos paradigmas, entre eles a alimentação.

como todo processo desescolarizante, não podemos crer que exista de forma generalizada, um unico e ideal modo de se alimentar, nem que essa seja uma decisão de fora, onde alguem, para o bem ou para o mal, determine como deve ser nossa relação com o alimento.

como inspiração, queremos conversar com pessoas que quebraram o paradigma da alimentação convencional, e encontraram sua liberdade e sua criação em um assunto tão complexo como esse.

nossa conversa será com carme mampel, crudivora ha 18 anos.

nas palavras de carme: “O crudivorismo não é só uma dieta saudável, uma porta aberta a uma vida sem doenças nem dor, é também uma ato de liberdade, de amor ao planeta, um canto a perfeição da Criação e agradecimento a Deus por ter dado a você um corpo que funciona maravilhosamente só por dar a ele o que é preciso. O crudivorismo é um ato de afirmação da dignidade humana, da sua inteligência e autonomia ante os poderes que querem submeter as pessoas através da confusão mental e da doença. E tudo isso sem sacrificios, na verdade, no crudivorismo liberdade e prazer são um!”


Será no dia 3/03/2012, sábado, das 16hs as 18hs.

Local: Pranna – Bioloja
Av. Artemio Dorsa, 118 – Jd. São Jose
Bragança Paulista – SP








Evento Gratuito!

18.2.12

TRABALHO É COISA DE CRIANÇA!

um dos grandes males da escolarização, é que aprendemos a praticar a segmentação da vida.

tem hora para o trabalho e hora para o lazer
hora de mexer o corpo e hora de estimular a mente
etc

e suas subdivisões,
hora de trabalhar a mente direcionada as matérias humanas, e hora direcionada as matérias exatas
hora de cuidar do físico, hora de cuidar do "psicológico"
etc

por isso que eu digo, que mesmo que a escola faça suas pequenas reformas, ela continua com sua escolaridade nociva.

assim chegamos a vida adulta reproduzindo essa cisão onde seguimos criando uma vida fragmentada.

quando uma mulher tem um filho, cria-se um conflito entre vida profissional e vida materna, e se ela opta por dedicar-se totalmente a vida materna, surgem outros conflitos, entre os deveres da casa, as necessidades pessoais e a atenção ao filho.

e por mais que temos condições de amenizar esses conflitos de modo pratico, seguiremos com o conflito de modo existencial, pois treinamos durante toda a vida escolar, esse modo segmentado de ser.

quando nos desescolarizamos desse paradigma, começamos a nos dar conta que viver não é cumprir funções, e ficar como equilibrista entre múltiplas tarefas.

vida boa também não é vida sem problemas e cheia de prazer.

é só conviver com uma criança para sentir que antes de qualquer direcionamento, o que ela precisa, essencialmente, é "condições para produzir vida."

criança não gosta de problema imposto, ela gosta de problematizar suas próprias questões.

criança não gosta necessariamente de brincar, a não ser que elas estejam produzindo vida com o brincar, mas brincar para se distrair, para matar o tempo, para desenvolver coordenação motora entre outros desejos dos adultos, dessas brincadeiras, as crianças não gostam.

criança gosta de fazer coisas de verdade.

alias, criança adora trabalhar!

criança gosta de fazer brincadeira virar coisa seria!

o interessante é que não existe uma unanimidade entre o que as crianças gostam de fazer.

mas todas elas gostam de se sentir produzindo, cada uma do seu jeito particular.

nossa questão é permitir que se apresente o modo que cada criança deseja produzir sua própria vida.
(coisa que nenhuma escola se propõe, a dar esse tempo e espaço para que cada criança apresente seu caminho de desenvolvimento e potencialização).

hoje, minha filha de 5 anos me chamou com os olhos cheios de brilho para eu ver todas as camas arrumadas com muito capricho, que ela mesma tinha feito, e pra surpresa dela, ela também conseguiu arrumar nossa cama, minha e de meu marido, que é um futton no chão de 2mx2m.
que alegria ela sentiu ao ver sua linda obra!

mais tarde, o pai foi lavar o quintal e ela pediu para ajudar, ele disse: "deixe eu terminar o trabalho que eu te dou a mangueira para você brincar um pouco"; e ela respondeu, "eu não quero brincar, quero trabalhar de verdade!"

e assim ela vem conquistando seu espaço em todos os lugares da casa.

na cozinha, já mexe com faca, fogão e eletrodomesticos.
além de lavar louça e arrumar a mesa.

diz que, entre outras coisas, quer ser cozinheira, e por isso precisar treinar.

e assim a gente vai aprendendo que para criança obrigação vira diversão.

mas a coisa não para por ai, alem gostar de trabalhar, criança não está preocupada em sentir prazer e evitar a dor.

elas adoram um desafio, o que inclui dor, frustração, disciplina e claro, muitas emoções, como frio na barriga e alegria.

uma outra caracteristica especifica da nossa pequena, são as conquistas corporais.

quer dominar patins, bicicleta sem rodinha aro 20, trepa-trepa extenso, circo, e uma vez que consegue dominar cada uma dessas coisas, começa a experimentar fazer o mesmo, mas de olhos fechados.

o pai quase tem um enfarte a cada semana, primeiro de pânico, depois de orgulho!

a questão é essa, permitir que as crianças trabalhem, desde muito pequenas!

e que escolham seus trabalhos, seus desafios, suas dores e suas alegrias.

quando uma criança não tem espaço e tempo para "produzir", ela vai buscar preencher esse desejo com o "consumir", ela deixa de ser uma produtora nata, para ser uma consumidora insaciável.

viver o cotidiano com uma criança "produtora" é completamente diferente do que viver com uma criança "consumidora".

a sorte é que nenhuma criança nasce consumidora, e que toda criança nasce produtora.

mas como sempre, para poder criar essa condição de desenvolvimento da criança, é necessário primeiro, criar essa condição em nós mesmos.

ser inteiro na vida, sempre, isso é desescolarização!

13.2.12

EXPOSTA E NUA!

a desescolarização é um caminho de cura.! assim edilberto e tatiana finalizam seu post a compulsão a educar

a desescolarização tem sido um caminho para minha cura!

"ser e estar" ao lado das crianças com a pratica da desescolarização, tem sido o modo mais intenso e direto de conhecer a mim mesma.

estar com crianças ativas, criativas, cheias de vida não é difícil, o difícil é estar comigo mesma sendo revelada em todas as minhas marcas tão estrategicamente escondidas na vida dita social.

quando alguma situação das crianças me tira do eixo, me deixa nervosa, ou chateada, ou preocupada, ou com qualquer outro ressentimento, ao invés de tentar resolver o problema aparentemente provocado por elas, eu me pergunto "o que estou sentindo?", e uma avalanche de imagens, marcas, memorias, me invadem.

nesse momento já não preciso perpetuar o sentimento, deixo de projeta-lo nas crianças; sem mergulhos psicológicos, ou busca de justificações para o que sinto; entrego o passado ao fluxo, abro mão dele, e afirmo o presente, e em segundos, já não estou dominada pelo ressentimento, e então posso me relacionar verdadeiramente com as crianças e com a situação que provocou todo esse movimento.

tem sido um treino diário, nada fácil, apesar de muito simples, é só o que chamamos de estar aqui e agora.

e essa presença tem sido essencial para que as crianças tenham espaço para desenvolver suas potencias.

definitivamente a parte mais difícil de desescolarizar, na presença de crianças desescolarizadas, é o encontro constante comigo mesma.

um encontro que raramente acontece quando se está cumprindo funções no trabalho, em casa ou até mesmo com as crianças.

um encontro que não acontece quando estamos distraídos enfrente a t.v. ou passeando pelo facebook.

tampouco acontece quando estamos vivendo "socialmente" onde vestimos mascaras, e especulamos possibilidades e oportunidades.

com expressão assustada, com um toque de vergonha, muitas mães me perguntam: "como você consegue ficar tempo integral com suas filhas?" mas com a mesma expressão, a pergunta correta seria: "como você consegue ficar tempo integral se encontrando com você mesma?"

e a reposta é animadora:
quanto mais tempo estou com as crianças, mais fácil fica!
quanto mais tempo estou comigo mesma, mais fácil fica!

quando penso em como nos afastamos tanto de nós mesmos, nos tornando seres "sociais", sempre ocupados com uma tarefa, com uma função, com uma militância, sempre para fora de nós mesmos, fica claro que esse é o processo que começamos la na primeira infância, dentro de uma escola.

mas esse é um assunto para um próximo post.