uma das questões mais recorrentes quando se fala em unschooling é o mito da socialização.
todos que praticam o unschooling sabem que esse não é absolutamente um problema real para as crianças que não frequentam escolas.
mas, parece-me, que os frequentadores de escolas do nosso sistema vigente estão sofrendo um processo anti social sem se darem conta disso.
a escola cria sérios problemas de socialização.
para desenvolver essa afirmação, vou usar um trecho de um texto brilhante do biólogo humberto matura do livro - a árvore do conhecimento, pg269.
"...a aceitação do outro junto a nós na convivência, é o fundamento biológico do fenômeno social. Sem amor, sem aceitação do outro junto a nós, não há socialização, e sem esta não há humanidade. Qualquer coisa que destrua ou limite a aceitação do outro, desde a competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica, destrói ou limita o acontecimento do fenômeno social. Portanto, destrói também o ser humano, porque elimina o processo biológico que o gera. Não nos enganemos. Não estamos moralizando nem fazendo aqui uma prédica do amor. Só estamos destacando o fato de que biologicamente, sem amor, sem aceitação do outro, não há fenomeno social. Se ainda se convive assim vive-se hipocritamente, na indiferença ou na negação ativa."
sendo assim, conviver socialmente é praticar a aceitação mutua incondicional.
aceitar verdadeiramente a diferença.
viver de modo colaborador, afirmando as diferenças, fazendo bom uso delas.
paradoxalmente, a criança começará a ter gosto pelo social quando entender-se como singularidade.
por isso um caminho necessário para tornar-se um ser social, é conhecer-se a si mesmo.
nenhum conhecimento que não nos afete diretamente, poderá ser útil para nosso desenvolvimento social.
por essas e outras a escola com suas praticas de competição, comparação, punição, classificação, ideologias, posse da verdade, etc, etc, torna-se um ambiente potencialmente anti social e gerador do conceito - sociedade hipócrita.
já não percebemos mais o quanto nos relacionamos de modo hipócrita com as crianças, quando nos dirigimos a elas mudamos o tom da nossa voz natural, as subestimamos intelectualmente, queremos ensina-las o tempo todo porque acreditamos que sabemos a verdade, somente a aceitamos de modo condicionado.
não estou dizendo que nós pais e educadores não temos nada a fazer em relação as crianças.
temos que criar um ambiente propício para que ela se escute, se conheça, perceba sua plasticidade, sua habilidade em se transformar, em se recriar.
para isso, é inevitável que esse adulto se escute, se conheça, saiba da sua plasticidade e de sua habilidade em transformar-se. em recriar a si mesmo, a sua realidade, a sua sociedade, o seu mundo.
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4 comentários:
Que texto maravilhoso, Ana.
É realmente um deleite, saber que ainda por traz do seu texto e blog, existe uma vida de dedicação coragem e experiência no que se diz respeito a educação e a desescolarização. Minhas poucas conversas contigo, mudou muito minha forma de ver, sentir e pensar a educação, e de entender que esse processo acontece a todo tempo em todas as relações que temos.Também me fez compreender e perceber o quanto eu sofri no meu próprio processo de escolarização.
Um beijo enorme para sua familia linda, e tem muita gente querendo te conhecer...já que sempre menciono seu trabalho.Aparece aqui no Capão quando puder!.
Beijo grande, MAuricio.
Olá Ana,
Concordo totalmente com Maturana sobre a necessidade de amar para que haja convivência. E esta é uma prática parece que foi esquecida em algum momento na evolução humana. Qualquer agrupamento humano, a qualquer nível, precisa, para sobreviver, que trocas sejam realizadas. E é este o momento em que a capacidade de amar pode legitimar uma relação.Sem amor não dá pra seguir. Sem amor só resta mesmo é a hipocrisia. Bjs da Rita
A loucura é não sabermos mais se amamos ou não! Sinto que através das rotineiras relações hipócritas estabelecidas, o sentimento do amor verdadeiro vai ficando lá no fundo da alma, escondidinho para que os assuntos mais "práticos" encontrem assim suas "soluções". A morte do amor em nossas rotinas e vida parece encontrar sua raiz até antes do processo da escolarização, em gravidezes cheias de medo, nascimentos regados à hormônios sintéticos e práticas intervencionistas, além de infâncias cada vez mais institucionalizadas. Isso sem falar no péssimo regime alimentar que, dia após dia, cristaliza toda uma sociedade, gerando doenças e um mal-estar crônico e generalizado.
Consciência JÁ!
E pra lembrar Ana, amamos você!
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