30.4.11

RESPONSABILIDADE OU CULPA!

quando dizemos:

"a realidade já está criada!";
"o sistema é assim!";
"tem coisa que não tem jeito...";
"não da pra ser tudo do jeito que a gente quer!";
ou literalmente
"eu só estou cumprindo ordens!!!",

ficamos isentos das responsabilidades de nossas ações, em outras palavras, nos assumimos irresponsáveis;
e assim nasce a culpa!

na escola aprendemos a cumprir ordens, assim como no trabalho, na família, no convívio social; então nos damos conta que nossa cultura funciona com todo mundo cumprindo ordens.

somos um povo irresponsável!

somos pessoas sensíveis que sentem culpa!

sentimos culpa porque acreditamos não ter saída para o modo de vida que escolhemos, pois nos sentimos obrigados a viver de acordo com o que já está estabelecido, mesmo que em "algum lugar" não concordamos com ele.

a irresponsabilidade e a culpa são frutos de um sistema, de uma cultura.

é incrível ver como as crianças, ainda não escolarizadas (culturalizadas, sistematizadas), sempre assumem seus atos, sem culpa, por isso dizem que as crianças são naturalmente cruéis!

converso com muitos pais que dizem: "me sinto tão culpado de ver meu filho passando maus momentos na escola!"
embutido nessa frase está: "como não sou responsável por escolher se meu filho vai ou não na escola, me resta a culpa por manda-lo".

tem uma frase batida que diz algo assim - para ser livre tem que ser responsável!

quando uma cultura de irresponsáveis cria uma frase dessa, está querendo dizer o que?

o que podemos chamar de responsabilidade ou livre arbítrio em terra de irresponsáveis?

é bom quando a gente se da conta de algumas coisas, é assim que a gente toma fôlego e transmuta!

29.4.11

ESTUDO CIENTIFICO?

nossos corpos desorganizados nos fazem sentirmos inseguros diante do desconhecido, diante do incontrolável, por isso quando seguimos investindo na nossa desorganização buscamos seguranças, mesmo que falsas ou ilusórias, para sentirmos mais protegidos.

e assim apelamos!

a ciência é a arte do explicar.
os cientistas são pessoas que tem prazer em explicar.
eles não buscam a verdade, buscam uma conexão com o cotidiano.
aconteceu algo! ótimo, o cientista vai querer explicar o acontecimento.

mas com nossos corpos inseguros, queremos que a ciência comprove uma verdade a serviço de nossas necessidades.

assim outro dia fui procurada por uma famosa empresa de produtos de higiene infantil e a conversa foi mais ou menos assim:

_olá, sou enfermeira de tal empresa e gostaria da sua colaboração em relação ao banho de balde, pois vimos que não há nenhum estudo cientifico a respeito e queremos desenvolver um estudo cientifico, para incentivar o uso desse banho terapêutico tão benéfico para os bebês.

a conversa se desenrola até que chega o momento em que eu digo:

_o banho de balde é feito sem nenhum uso de produto de higiene, pois além do bebê não precisar usar nenhum produto químico para sua higiene, muito menos em um banho de balde terapêutico que oferece ao bebê um ambiente muito relaxante, onde ele poderá simplesmente ficar imerso com a presença de um adulto que não terá que desempenhar nenhuma função higienizadora.
então se vocês querem um estudo cientifico, o que ao meu entender seria explicar o que é o banho de balde, vocês vão ter que deixar de lado os produtos como sabonete e xampú.

o tom da conversa ficou um pouco tenso enquanto ela foi revelando:

_nós queremos fazer um estudo cientifico do banho de balde e incluir nosso estudo cientifico já realizado que comprova que nossos produtos são totalmente benéficos para o uso do bebê.

resumo da opera: os estudos científicos são financiados por uma empresa para que suas necessidades sejam certificadas; como se dissessem assim, se virem para provar que nossos produtos são bons, e assim podemos apresentar um estudo científico.

a conclusão foi que como eu não iria apoiar o uso dos produtos industrializados (cheio de quimicos perfumados) em um banho de balde, eles iriam procurar quem os apoiassem, pois não importava realmente entender o banho de balde, mas adapta-los as suas necessidades.

claro que toda essa conversa telefonica ocorreu com muita cordialidade e compreensão de ambas as partes.

16.4.11

A DERIVA, EM DEVIR

a menina estava brava, muito brava mesmo, chorando aos gritos. incrível que um corpinho de três anos pudesse expressar tão intensamente sua insatisfação.
quando olhou para o lado, viu um espelho, percebeu seu estado "desarrumado" e imediatamente parou de xilicar e começou a se relacionar com sua imagem no espelho, como se nada tivesse acontecido...

quem assistia a cena, além da surpresa pela mudança de humor imediato, começou a questionar a veracidade daquela braveza toda, pois será possível estar bravo de verdade e deixar de estar, imediatamente?

sim, não só é possível, como é saudável.
a capacidade de variação de emoções é um dos sinais de corpo bem organizado.

o bebê e a criança, em seus corpos conectados, sem tensões fixas, vivem em variação emocional constante.

isso quer dizer, viver no presente, relacionar-se com o tão desejado "aqui e agora".

a emoção é instintiva.
todo ser vivo, seja barata, mosquito, elefante, peixe ou gente, tem suas ações sob o domínio de suas emoções.

e todo ser vivo está em constante relação com o "fora", está a deriva.

a deriva não é o caos, mas também não é controlável.
são forças com as quais nos relacionamos, é a natureza em ação.

somos corpos organizados a deriva!

esse corpo organizado a deriva, continuamente em transformação, tem interconexões que geram emoções, e essas emoções direcionam nossas ações.
emoções "fixas" geram ações fixas, músculos tensos, respiração limitada e reduzem nossas percepções, ficamos empacados, passamos das emoções instintivas para as emoções culturais.

as variações de emoções, agem diretamente nas nossas ações, liberam nossos músculos, permitem a fluidez da respiração e ampliam nossas percepções.

e esse é um recurso nato, do corpo organizado a deriva.

por isso as crianças não investem no ressentimento, pois estão em variação constante.

esse é um dos movimentos necessários para a desescolarização, reconquistar a capacidade de entrar em variação emocional; as vezes tão distante do adulto.
assim nos desatamos da escolarização que investe no corpo desequilibrado e tenta controlar a natureza, porque um corpo desorganizado sente-se ameaçado pela natureza, mas não temos escolha, a natureza é incontrolável e impossível de não fazer parte da vida.

a desescolarização investe na preservação, ou reconquista, do corpo organizado que celebra a deriva.

o contato com as crianças, especialmente os bebês, nos inspiram esse caminho, esse retorno (sempre inédito) do corpo organizado a deriva que permite a variação emocional e assim vive no presente.

o paradoxo é que quanto mais variamos emocionalmente mais consistente nos tornamos.
quem não varia, torna-se obsessivo, um personagem, uma caricatura.

na variação vamos nos afirmando.

em outras palavras esse movimento poderia também ser chamado de desapego.

desapego das emoções, do ressentimento, do conhecido;

e das garantias, que geralmente são ilusórias.

7.4.11

RE-CRIANDO EM ABRIL

nosso próximo encontro do re-criando será dia 14/04 as 20hs em são paulo no bairro da aclimação.

nesse encontro continuaremos a desenvolver o processo de desescolariação dos adultos.

no encontro anterior falamos sobre os processos de fixação do ser humano - consciência e habito, que são transmutados pelo conhecimento e razão, que são transmutados pelo pensamento e criação.

falamos da natureza que nos apresenta a condição de viver do impossível ao verdadeiro, e como nosso processo escolar espartano nos ensinou a viver do possível ao real.

nos inspiramos nas crianças, que nascem naturalmente desescolarizadas e que vivem do impossível ao verdadeiro.

no próximo encontro vamos caminhar com ajuda do biólogo humberto maturana, que nos apresenta a condição biológica para a desescolarização.

o encontro é aberto a todos os interessados, é um encontro entre os adultos, onde as crianças são bem vindas, porem não teremos nenhuma atividade especifica para elas.

não é necessário ter participado do anterior para participar desse próximo encontro.

a participação é gratuita.

por favor confirmem a presença pelo e-mail anathomaz@terra.com.br

sejam bem vindos