31.7.10

NOSSOS MESTRES!

como é isso da criança ser a fonte da vida? nosso mestre? perguntou uma amiga a queima roupa, pedindo exemplos concretos!

hoje de manhã enquanto eu estava fazendo meu oil pulling, a caçula (quase 2 anos) estava em uma bacia com agua e alguns brinquedos, e sua irmã (4 anos) estava na frente do espelho experimentando presilha no cabelo.

todas estávamos dividindo o mesmo espaço e cada uma envolvida em seu mundo-propio.

como eu estava impossibilitada de tagarelar, pois tinha a boca cheia de óleo, e incapaz de ficar envolvida na minha ação, fiquei observando as meninas, como elas estavam completamente presentes em suas vivências, nada mais passava pela cabeça delas, e isso não quer dizer que elas não estavam atentas para outros acontecimentos.

é realmente incrível ver com que facilidade a criança permite envolver-se, entregar-se, relacionar-se, estar presente em suas ações.
algo que almejamos pois essa inteireza nos faz mais eficientes, potencializa nossas percepções, deixa a intuição mais aguçada, nos libertamos das representações e entrarmos no mundo da criação.

me parece que é isso que os praticantes de meditação buscam em suas praticas por anos a fio.

foram 20 minutos de oil pulling, uma escovação a seco pelo corpo, um banho de óleo de gergelim, um banho de agua, escovar os dentes, e por todo esse tempo elas seguiram envolvidas em suas atividades.
quem disse que criança tem concentração de curta duração?

nós é que a treinamos a fazer as coisas no tempo que nos convém, que geralmente é curto e disperso.
nós é que a treinamos a ter que prestar atenção em varias coisas ao mesmo tempo obrigando-as a fazer o que não lhes interessam e como defesa elas desenvolvem a capacidade de se distrair para abstrair aquilo não lhes faz sentido naquele momento.

assim tornam-se adultos com dificuldade de estar presentes em suas ações cotidianas.

experimente tomar banho sem ocupar a mente com outra coisa, tomar banho presente, aguçando suas percepções, parece impossível!

somos adultos distraídos, a ponto de não percebermos que temos crianças com enorme capacidade de concentração, envolvimento e criação.

são nossa fonte de vida, nossos mestres!

21.7.10

A PLENITUDE DA MULHER

existem livros maravilhosos e inspiradores que incentivam as mulheres abraçarem a maternidade ativa, dando prioridade aos cuidados do(s) filho(s) com evidencias do bem que essa decisão fará a ele(s).

mas não é só o filho que ganha quando uma mãe resolve dedicar-se a maternidade.

a mulher, quando aproveita essa oportunidade singular, também tem muito a ganhar.

já na gravidez, onde a mulher vive uma revolução hormonal, a potencializa ção de seus sentidos, seu auge orgânico, energético e espiritual.

passa pelo o parto, e de novo, se a mulher está preparada para essa vivência, ela vai passar por uma indescritível revolução corporal/anímica/emocional, vai entrar em contato consigo mesma sem intermediarios, vai romper seus limites, vai testar sua fé na vida, vai sentir a morte, para logo sentir a vida em sua presença máxima.

enfim inicia-se a maternidade, assunto principal deste post, que tem o desejo de dizer que a mulher pode encontrar nessa experiência uma verdadeira oportunidade de reconquistar uma vida plena.

as vezes me faço a pergunta: qual será a coisa mais importante para o desenvolvimento do ser humano?
há alguns anos a resposta que me surge é: o autoconhecimento.

os bebês tem a capacidade incrível de nos apresentar a nós mesmos, escancarando nossas condições psíquicas através das nossas reações provocadas pelo convívio tão intenso com esses pequenos seres.
muitas vezes nem nos reconhecemos, mas não há duvidas, somos nós mesmas, sem mascaras, sem controle social.
somos obrigadas a quebrar paradigmas, a repensar o que é importante na vida.

qualquer uma poderia pensar racionalmente que no auge da carreira profissional não há duvidas que nossa vida deve continuar em pleno desenvolvimento e para o bebê podemos selecionar uma babá bem qualificada.
mas porque sentimos dor nessa decisão? no fim da curta licença maternidade é muito dolorido despedir do bebê com 4 meses, ou 6 meses para as mais sortudas e sair para o trabalho.
parece que algo em nós não aceita esse desvio da natureza.
porque é um desvio da natureza.
parimos e somos biologicamente preparadas para cuidar de nosso filhote, mas culturalmente nos convencemos que essa é uma tarefa retrograda, sem charme, sem reconhecimento social, pouco produtiva e sem retorno financeiro.

porem, quando nos damos a oportunidade para ficar ao lado do bebê, algo em nós sente que aquilo faz sentido, apesar da opinião publica querer nos convencer a sentir diferente.

como não estamos preparadas socialmente para nos dedicarmos a criação de nossos filhos, no máximo, chegamos a nos dedicar aos cuidados do(s) filho(s).

o que precisamos entender é que esta é uma oportunidade maravilhosa para o desenvolvimento, inclusive profissional, da mulher.

porque entramos mais em contato com nós mesmas, afinamos nossas percepções, sentidos e intuição.
estamos mais atentas aos outros, mais criativas, mais intensas e sem duvida nenhuma, mais bonitas.

participar ativamente da criação de nossos filhos exige um estado de presença constante, criar ambientes favoráveis para as crianças, ser criativa na cozinha, ter bom humor e paciência, e viver em estado de graça pela admiração por qualquer novidade e gracinha que a prole vive aprontando.

tudo isso nos acrescenta tanto que não é raro que a mulher encontre ou crie uma nova profissão, pois é tanta criatividade sendo exercitada e ao mesmo tempo o desejo de estar ao lado dos filhos, que surgem novas promissoras profissões, além de tudo, lucrativa.

depois de três anos, que é o tempo que mais precisamos estar ao lado de nossos filhos, já estamos super desenvolvidas e capazes de inventar pelo menos uma meia dúzia de projetos.

o incrível é que filho que é cuidado tete-a-tete pela mãe, vai ficando independente muito cedo, a cada ano que passa demanda menos atenção, mas a mãe que não quer perder sua fonte de inspiração mantem o corpo-a-corpo mesmo que a meia distancia pelos primeiros sete anos.

quando a gente se da conta o filho já está dormindo sozinho, criando suas próprias brincadeiras, viajando sem a gente, pensando por conta própria...

e a gente fica ali, satisfeita de deixar o filho experimentar o mundo com suas próprias pernas, não fica a sensação de tempo que voou e a gente nem viu, porque estando ali presente a gente viu tudo acontecendo, de camarote.
filhos adolescentes criados e educados pelas mães quebram o estigma de fase complicada da vida.
nesse momento a mãe já está tão livre que não precisa nem se preocupar em se reposicionar no mercado de trabalho, pois a essa altura ela já criou seu próprio mercado independente e criativo.

o que pode ser mais importante para uma mulher do que viver plenamente a maternidade???!!!

mesmo porque é na maternidade que ela pode ampliar sua capacidade afetiva, sua criatividade e estar em permanente contato com a fonte da vida.

18.7.10

PERCEPÇÃO AFINADA!

"não da para distinguir entre ilusão e percepção"
esse é outro pensamento genial de maturana!

se não fosse assim não haveria equivoco, a cada erro de percepção seriamos chamados de mentirosos, mas há sim a possibilidade de acharmos que algo é de um modo que depois podemos até constatar que nos iludimos, então nosso erro não será uma mentira e sim um equivoco.
só quando sabemos que algo não é do jeito que falamos que é considerado uma mentira.

e porque nossa percepção pode ser ilusória?
porque depende da experiência de cada um, da experiência que já tivemos ou da que ainda não tivemos.

quando vivemos uma nova experiência, nossa percepção sobre algo vivido pode mudar e compreendemos o mundo de outra maneira.

em nossas relações estamos sempre oferecendo ou pedindo uma explicação para nos entendermos.

porem a explicação não depende de quem explica, mas de quem escuta!

se eu explicar para uma criança de 4 anos que vou até o banheiro e já volto, ela irá compreender o meu desaparecimento, porque para o outro é isso que acontece, alguém está no seu campo de visão e desaparece, mas por causa das experiências de uma criança de 4 anos ela aceita a explicação que fui ao banheiro e já voltarei.
a explicação é aceita!

se eu dou a mesma explicação a um bebê ela não será valida, pois suas experiências não sustentam minha explicação, para o bebê eu simplesmente desapareço, e a explicação não é aceita!

isso nos faz entender o porque não é tão simples nos fazer compreender, assim como compreender o ponto de vista dos outros, pois compreender a explicação do outro depende das experiências que cada um teve ao longo da vida, em outras palavras cada um de nós temos nosso mundo-próprio!!!

paradoxalmente, quanto mais compreendemos e investimos em nosso mundo-próprio, melhor será nossa comunicação com o outro.
é a experiência de sentir, viver, perceber minha singularidade, que me faz compreender que o outro tem suas próprias experiências, e por isso fica mais acessível minha abertura para aceitar a explicação do outro, pois sei que está falando baseado em uma experiência própria e por isso não entro em combate com isso, e sim ganho o que se chama de "aprender com a experiência do outro".

não deixo de ter o meu ponto de vista, baseado em minha experiências, mas sei que o que estou ouvindo do outro é o seu ponto de vista e não uma afronta a minha percepção, e assim todos ganham um aumento de percepção, a minha visão + a visão do outro = diálogo.

voltando aos bebês e as crianças, se meu mundo-próprio adulto está desenvolvido, ouço, sinto e compreendo que aquela criança está me mostrando seu mundo-próprio e magicamente aparece um lugar no tempo e no espaço onde posso compreender e criar a explicação que aquela criança é capaz de aceitar, não preciso nem adivinhar ou ser uma especialista em pensamentos de crianças, só preciso escuta-la e ela me dirá qual explicação será aceita ou necessária para ela.

minha amiga mirella postou uma questão no post anterior, e acho que é por ai a busca da desintoxicação que podemos fazer para sairmos do vicio do disfarce, conhecer nosso mundo-próprio, nossa biologia, nossa anatomia.
liberar o corpo do controle da mente; o corpo sente, pensa, deseja; dar credibilidade, não desqualificar esse acontecimento; permitir que a mente cumpra seu papel brilhante de servir ao corpo e fazer acontecer seu desejo de vida; ao invés de exigir da mente a condição de vigiar, julgar e até punir o corpo caso ele tenha o atrevimento de desejar o que não está pré estabelecido.

é só olharmos nossos bebês para ter a certeza que o corpo sabe o que faz e o que pode; a mente é que ainda não tem ideia do que pode um corpo.

esse é um caminho de refinamento das percepções (que pertencem ao corpo) para que cada vez menos vivamos nas ilusões da mente.

11.7.10

AMOR BIOLÓGICO

o principio do desenvolvimento do bom relacionamento é o amor.
amar nos traz a capacidade de aceitarmos os outros, mesmo que não pensem, sintam ou ajam como nós.
e como diz o bom e velho humberto maturana, amor é biológico.

amar é aceitar a capacidade do outro ser capaz de fazer escolhas próprias.
é respeitar a singularidade, o mundo-próprio de cada um, isto é, a percepção singular que cada um de nós temos do mundo.

um bebê já nasce com toda capacidade de perceber o mundo a partir de seu corpo, de entender o que é melhor para si e selecionar o que aumenta sua potencia de vida.

amar é aceitar que mesmo um bebê é capaz de fazer escolhas e permitir que o faça.

toda vez que uma pessoa é impedida de exercitar sua capacidade genuína de fazer escolhas, ela não está sendo amada, e sua condição de escolhas inteligentes começa a atrofiar.

quando a criança está em um ambiente que não proporciona condições para desenvolver sua autopoiese, ela começa a fazer escolhas não mais determinadas por sua inteligencia primordial, mas pelo jogo do sistema que a rege, sendo determinada de fora, pelos outros, por interesses diversos.

não é qualquer escolha que queremos que as crianças façam, mas escolhas que estão coladas a sua inteligencia primordial.

é necessário permitirmos que as crianças tenham sempre ambientes e convívios que possibilitam manter ativa sua inteligencia primordial, para que seja praticada e assim desenvolver-se.

amar é permitir que as crianças cresçam exercitando sua inteligencia primordial através do exercício de fazer escolhas próprias, e para isso elas precisam ter ambientes condizentes com seu momento de vida.
ambientes que lhes ofereçam segurança, confiança, estímulos naturais, respeito por seu espaço e tempo.

um bebê pode escolher quando nascer, quando mamar, quando dormir, quando fazer xixi e cocô, quando ficar no colo ou no chão.
mas para isso ele tem que estar em um ambiente propicio, sentindo-se seguro para fazer essas escolhas.

uma criança pode escolher o que comer (desde que as opções sejam todas saudáveis não há o que se preocupar), escolher quando brincar, do que brincar, por quanto tempo brincar, o que vestir (dizem que casaco é aquilo que a criança veste quando a mãe sente frio), e com o tempo as crianças vão ganhando mais condições de aumentarem suas possibilidades de fazerem escolhas.

todos os outros animais fazem escolhas próprias, mesmo não tendo a capacidade de raciocínio, informações intelectuais, ou alguém que os ensinem; são escolhas celulares, escolhas que o corpo faz sempre com o desejo de fazer a vida acontecer da forma mais potente possível.

simples assim, a vida quer acontecer de forma plena e potente, para isso ela já vem equipada com essa capacidade em todas as suas células para fazer sempre a melhor escolha para seu ser singular, e quanto mais respeitada a condição dessas escolhas serem feitas, mais inteligente ela fica, e assim a vida cresce, desenvolve, se aprimora.
podemos chamar esse movimento de evolução.

muitos de nós não tivemos condições de escolher, e porque sempre escolheram por nós não da para dizer que foram escolhas feitas por amor, por mais que queremos acreditar; mas foram escolhas feitas por interesse (pessoal, social ou politico), por conveniencia, por regras sociais, por lucro, por habito, por medo, por não saber fazer de outra maneira; qualquer coisa, menos por amor, pois amor é permitir que o outro tenha condições de fazer escolhas próprias.

se não exercitamos nossa capacidade de fazer escolhas também não vamos permitir que nossos filhos e alunos o façam.

nossa inteligencia celular está atrofiada.
não sabemos mais escolher sem ter que usar o raciocinio para julgar, especular perdas e ganhos, e por fim permitir que escolham por nós, as vezes de forma tão sofisticada que cremos que fomos nós que escolhemos.
do modo que fomos criados é absurdo pensar em livre arbitrio.

para pararmos esse moto continuo, precisamos nos trabalhar, nos transmutar, aprender a ser nós mesmo outra vez e reconquistarmos nossa capacidade de fazer escolhas primordiais, aquela que está colada a nossa existencia singular, aquela que faz a vida ter sentido por ela mesma e não por uma finalidade especifica.

ou alguém acha que todas as coisas que fazemos na nossa vida foram escolhas feitas por nossa inteligencia primordial?
por um desejo intenso em nós?
por inspiração?
por nosso amor biológico???!!!