30.3.11

DO IMPOSSIVEL AO VERDADEIRO

começo pela citação de maria zambrano: "no nascimento não se passa do possível ao real, mas do impossível ao verdadeiro".

o que vai do possível ao real é o que se fabrica, o que se produz.

mas o que nasce começa sendo impossível e termina sendo verdadeiro.

a criança nasce com suas forças criadoras ativas, ela se auto cria, são forças internas que se relacionam com o fora e com esse encontro, ela se auto cria, sempre de modo singular, por isso, os filhos sempre se desenvolvem de forma única.

a criança não está determinada pelo que sabemos ou podemos, o novo sempre aparece em forma de milagre, e a afirmação do impossível tem também algo de milagre, uma vez que o que afirma é que cabe esperar o inesperado e que cabe receber o infinitamente improvável.

tanto nossa educação escolar como nossas orientações para educação familiar, estão baseadas no conhecimento, no poder e no possível, assim, crianças são fabricadas, tornando-se produtos.

toda aquela força de pulsão singular que cada criança traz em si, é aos poucos bloqueada, desqualificada e impedida de se manifestar, no lugar da pulsão de vida, entram as tarefas a serem cumpridas e os lugares a serem ocupados.

por isso somos nós, os pais e educadores, que precisamos nos descolarizar, acordar nossas pulsões natas, desocuparmos o lugar de poder e saber, nos re-criarmos a partir das forças que nos compõe, voltarmos a ser criadores, e aceitar o novo, o milagre, o impossível de cada criança que nasce.

é preciso ultrapassarmos nossas superstições, nossa falsa segurança em seguir regras e receitas, nosso conhecimento estagnado, nosso saber que antecipa o ser e assim o aprisiona.

é preciso reconquistar o lugar da criação, do criador, do ser impossível que cria sua verdade, a verdade singular que sempre se abre para as relações e para o fora.

como pais e educadores desescolarizados, podemos nos aliar as crianças, e com elas criar uma atmosfera propicia para a vida acontecer em sua potencia plena.

jorge larrosa diz: "a verdade da infância não está no que dizemos e sabemos dela, mas no que ela nos diz no próprio acontecimento de sua aparição entre nós, como algo novo.
não se trataria então, de que aprendêssemos a constituir um olhar capaz de acolher o acontecimento daquele que nasce? e, se a educação é o modo de receber aquele que nasce, não seria o caso de, então, deixar acontecer a verdade que traz consigo aquele que nasce?"

é para isso que nós adultos nos desescolarizamos.

Um comentário:

Anônimo disse...

tenho pensado sobre isso muito e me sinto fortemente aprisionada... tenho observado minha filha de 4 anos, que é uma menina incrível, de uma inteligência e desenvoltura que impressiona a muitos, inclusive a mim. Mas também muito amedrontada, muito obediente.. isso tb me chama a atenção. Percebo ela, muitas vezes, já "castrada". Tenho observado a criatividade nela muito adoremcida e ela tb restringida pela quantidade de regras absolutas por mim e tantos outros que a rodeiam impostas ao custo que tiver.
Ontem ouvi (e me fez muito sentido), num grupo de trabalho que frequento, que é preciso ultrapassar a nossa armadura, para que possamos trocar afeto e alcançar as idéias criativas. Sinto-me bastante perdida neste caminho. Como se não soubesse funiconar de outra maneira, se não esta tão rigida, em nome da manutenção de uma ordem que eu julgo ser importante na educação de minha filha, no preparo dela para se lançar no mundo ... mas me sinto cortando ramos que estão pra florecer.