cada vez mais acredito que o caminho para a autonomia é através do auto-conhecimento.
nosso inicio de vida é autônomo, por nossa capacidade de auto-criação (autopoiese), desde o ventre da mãe, a partir do encontro de duas células, sua multiplicação se da de forma autopoietica (ação de criar-se a si mesmo continuamente).
desde sempre somos autônomos.
a autonomia implica a interdependencia, a troca, a relação; não é um ato isolado e independente do mundo que o rodeia.
assim seguimos nos auto-criando após o nascimento, com o desenvolvimento de nosso corpo, de nossas percepções, de nossas ações, sempre em relação, mas visivelmente sendo uma construção a partir de nossas forças internas; facilmente constatado pelo modo singular com que cada um se desenvolve, pois temos nosso ritmo próprio, nossas prioridades biológicas e anímicas, nosso sentir e agir no mundo de modo muito particular.
começamos a perder a autonomia quando nos fazem crer que para sabermos algo precisamos aprender através de forças externas, que para nos desenvolvermos precisamos nos enquadrar em um esquema padrão pré-determinado que nos moldará afim de nos tornar cidadãos dessa sociedade.
durante todo esse processo, que dura anos, deixamos de investir e acreditar na nossa capacidade autônoma e singular de nos criarmos a nós mesmos, deixando adormecida nossas pulsões e nossos desejos.
apesar de nossos desejos e pulsões adormecidos, algo ainda permanece vivo em nós, que nos faz sentir incomodados por termos nos afastados de nós mesmos, pela perda de autonomia, pela sensação de impotência e de falta, que esse processo da não-autonomia produz em nós.
por isso a reconquista da condição da autonomia inicia-se com o auto-conhecimento, que se desdobra em muitos meios.
existe o auto-conhecimento biológico da existência humana que é comum a todos nós, e que pouco sabemos dele, pois não faz parte do currículo escolar, e quando entramos em contato com as condições biológicas surpreendentes dos seres humanos, muitos dos nossos conceitos se transformam e se transmutam (recomendo o autor humberto maturana e j.v.uexkull com os livro "dos animais e dos homens").
existe o auto-conhecimento do nosso modo singular de pensar, sentir e agir sobre o mundo, que não é uma forma pré-estabelecida, mas tendências e forças que quando as conhecemos podemos jogar com elas sempre a favor do desenvolvimento de nossa potencialidade.
trazer a superfície nossos pensamentos, nossa imaginação, nossos medos, nossas questões, sem necessariamente buscar por soluções, mas para abrir nosso processo de intimidade, de interdepedencia e de ação .
minhas experiências mais fortes de autoconhecimento, foram durante minhas duas ultimas gravidez e partos, processos que me convidaram a entrar em contato com minha sombra e minha luz; assim como tem sido o processo de desescolarização de meu filho e do unschooling de minhas filhas.
trazendo sempre para superfície as forças internas e externas que em atravessam, e assim podendo viver um intenso processo de conhecer, re-conhecer, desconhecer, criar e re-criar minha existência.
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4 comentários:
Ana, meu comentário talvez seja uma idiossincrasia, uma critica quanto a 'decoração' mas, vai lá:
O texto é uma delícia, vc vem iluminando a cada texto sua experiência e com cada vez mais generosidade.Só não gosto da palavra 'autoconhecimento', como ja comentei com uma amiga em comum.
Infelizmente, não sei se pelos tempos, acho que a maioria destas palavras herdaram o peso das coletâneas de idéias exteriores que "resolvem" coisas.O 'auto' adquiriu autonomia prórpria. Eu preferia em vez de auto conhecimento algo como 'consiência' ou estar consiente do que autoconhecimento.Por que 'conhecimento' já parece ter também algo 'externo' ao que é prórprio.
É como se se enxergasse o 'autoconhecimento' de cima conhecendo você mesmo e, o que me parece mais ilusório, embute a idéia de completude,a meu ver uma contradição.Algo meio esquizofrênico.
Estar consiente é um "estado" um "momento", parece agarrar a dimensão temporal e da continuidade ao movimento.Potência e movimento.
oi Ale, gosto muito de seus comentarios!
vejo autoconhecimento como um processo necessario para nos tirar da dependencia do "movimento coletivo". explico: quando conversamos sobre desescolarização, logo vem um animo enorme de reunir-se com outras pessoas para criar um mundo novo (diferente). mas não acredito que funcione assim. a luta sempre começa em nós mesmos. conhecer onde estou aprisionada a maquina, onde quero continuar alimentando esse mecanismo, onde tiro proveito de tudo isso por isso não quero a mudança...ja a consciencia é sempre retardada, ela só se da depois do acontecimento, ela é efeito, quase como um habito. quando os conscientes se unem eles só ficam desabafando, quase como se evitassem tocar no tema do processo de transmutação, pois essa consciencia pode muito pouco. tambem tem o autoconhecimento em relação aos processos da existencia humana, é encantador descobrir biologicamente que é impossivel para o ser humano ter intenção de algo, é sempre intensidade, a gente que traduz como intenção. e por aí afora. não teria nenhum problema em abandonar a palavra autoconhecimento (apesar de ser uma palavra muito bem usada por meu querido espinosa), mas para mim, ainda não seria consciencia. mas o que realmente importa é o sentido que damos a palavra, e pela sua exposição ficou bem claro o seu sentido e eu me alio a ele. beijo
Pois é Ana, não via consiência de uma maneira estática ou habitual como você colocou.Via autoconhecimento desta forma estática, não habitual.quase um cãnone.Mas por achar que esta palavra foi atualmente usurpada.Mas, como vc disse, está resgatando-a para o seu devido lugar.De certa forma é uma 'implicação' minha com o contaminação da palavra pelo modismo.
beijo
Lendo um livro do John Holt, descobri, indignada, que a palavra ensino quer dizer colocar algo de fora para dentro do individuo, aluno(ser sem luz, vazio... E p/ mim faz muito sentido quando vc diz que somos forçados a acreditar que p/ aprender temos que ser ensinados!
é até revoltante como somos forçados a abandonar nossos instintos!!!
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