3.9.10

VIDA FORA DA ESCOLA!

não tenho os filhos frequentando escola!
e mesmo morando no Brasil, não estou infringindo a lei, pois meus filhos tem 17, 4 e 2 anos de idade, todos fora da idade obrigatória.

por isso aproveito para tornar publico parte do maravilhoso processo de desescolarização que estamos vivendo.

meu filho mais velho iniciou sua vida escolar em uma escola waldorf em londres, onde estudou por três anos.
de volta ao brasil continuou no mesmo sistema de ensino, nunca com grande entusiasmo, porem aos 13 anos começou a lamentar diariamente o fato de ter que ir a escola.
eu já tinha um olhar muito critico em relação a escola, mas até então em relação particular a desconexão corpo/mente que acontece nas escolas.
ouvi as reclamações do meu filho e comecei a ver o quanto a escola tinha roubado dele a curiosidade, a força corporal, o desejo por aprender.
ele não gostava de fazer lição de casa, não gostava de ler livros, estudar para provas, decorar formulas, e tinha uma profunda irritação em relação ao modo como as amizades se formavam entre os colegas de classe e o tratamento entre professores e alunos (isso merece todo um capitulo, entre bullings e abuso de autoridade).

propus a ele terminar o ensino fundamental, já que era obrigatório e ao mesmo tempo me daria tempo para me preparar para desescolariza-lo do ensino médio.
ele aceitou prontamente e eu comecei a me preparar.
como faria isso? o que meu filho aprenderia fora da escola? estaria pronta para ouvir as criticas?
essas eram algumas perguntas que eu mesmo me fazia durante esse ano que me propus a me desescolarizar.

nosso projeto começou em janeiro de 2009, nos reunimos e apresentei meu projeto para ele.
propus que no primeiro ano eu ficaria responsável por sua carga horaria assim como a escolha das atividades que ele faria; no segundo ano dividiríamos 50% para cada um decidir sua formação; e no terceiro ano ele poderia assumir toda a responsabilidade de seu processo desescolar.

ele precisaria primeiro de uma desintoxicação após tantos anos de escolarização para poder tomar decisões no mundo real.
em relação ao tempo livre, ele poderia fazer o que tivesse vontade, com restrições ao horário para assistir televisão.
para resumir esse primeiro ano, em 5 meses ele já tinha me convencido a assumir totalmente seu processo desescolar.

ele desenvolveu um verdadeiro interesse pela magica e precisava de muito tempo para suas investigações, praticas e criações.
no inicio de 2010 ele já estava na inglaterra, onde ficou por mês, para participar de um congresso mundial de mágicos; em julho e agosto em buenos aires para aperfeiçoamento com um consagrado magico mundial com quem teve aulas diárias e voltou radiante e já avisando que terá que ir a guatemala em fevereiro.

Em menos de dois anos fora da escola, vejo meu filho ler livros (em inglês), ficar fluente em outras duas línguas, procurar pessoas para auxilia-lo, apresentar-se em publico com muita fluência, estudar madrugada a fora, acordar cedo todas as vezes que lhe interessava, responsabilizar-se por si, acordar e dormir feliz, sem nunca mais reclamar que está fazendo algo que não gostaria de fazer.

ter um adolescente assim em casa facilita muito, pois não fica buscando recompensas ou descompensas da vida escolar chata e cheia de pressão que vivem hoje em dia os adolescentes.

hoje nem nos lembramos mais da obrigatoriedade de frequentar a escola.
estar em casa, dedicando-se aos seus interesses genuínos e no caso dele, encantador, nos provou ser a coisa certa.

quanto as pequenas, que também estão em casa no alto de seus 4 e 2 anos de idade, também não questionamos nenhuma vez a possibilidade de frequentarem a escola, e já encontramos uma solução para continuarem desescolarizadas sem infringir a lei.

mas isso fica para um post futuro.

10 comentários:

Daniela Caielli disse...

Oi Ana! É... há que se ter ousadia pra transformar... muitas coisas pensei quando li seu post. que legal que vocês têm uma harmonia familiar que favorece esse processo de desescolarização. também acho que a trajetória formativa do indivíduo não se resume a diplomas e notas. mas penso que é bom também ter algum traquejo pra lidar com as formalizações, não? beijo!

Claudio Oliver disse...

Querida Ana
Muito bom, mesmo excelente esse seu post. Aqui em casa nossa filha (para os mais preocupados com o cognitivo... alfabetizada em inglês e português e com forte interesse em musica, balet, matemática e geografia) e nós vivemos o ambiente de unschooling. Leogicamente , fazer isso no Brasil, sempre causa o desconforto da solidão. No começo do ano escrevi um fictício report no meu blog " a ultima criança fora da escola" http://naruacomdeus.blogspot.com/2010/01/ultima-crianca-fora-da-escola.html
Seria um prazer a sua leitura.
Ns viradas da vida, sou mestre em educação e o títulto de minha tese foi " Amigos no caminho - O educador e a educadora na obra de tolstoy, Ivan Illich e Paulo Freire". Acabou suma cum lauden, e dizem que saiu boa... Ao ler seu blog vi em vc o exemplo do amigo no caminho. Aliás se quiser dar o prazer da leitura que talvez ajude na reflexão sobre o que você já faz tão bem feito, me avise.
No mais , parabéns pelo belo exemplo e vamos juntos... Você não está só.

Ana Thomaz disse...

oi Claudio,

vou adorar ler sua tese! como posso acessa-la?
voce está em são paulo?
e agora vou ler o texto que voce recomendou.

nos falamos,
meu e-mail: anathomaz@terra.com.br
abraço
ana

Anônimo disse...

Ana,
Pego carona da mensagem de Claudio (vc não está só meeesmo), e recomendo (vivamente) o livro de que te falei há algum tempo, "Sociedade sem escolas", de Ivan Illich (Ed. Vozes).
Abração,
Luis G.

Ana Thomaz disse...

oi Luis,
ja foi meu livro de cabeceira por um bom tempo.
muito lucido, simples, e cheio de razão!


beijo
ana

Pauleca disse...

Ana minha querida, que texto lindo! seu filho é realmente uma preciosidade, é lindo lindo de se ver!!!
eu quero, Ana, eu quero fazer a realidade diferente!
bjs Pauleca

Mariana Tezini disse...

ana, eu quero ouvir sua opinião sobre as escolas waldorf!

Tamara disse...

Ana, ficou muito feliz de ter encontrado teu blog no diretorio materno! Deu muita vontade de conhecer você e as outras mães e familias desescolarizadas. Um forte abraço,
Tamara

Sueli disse...

Também gostaria de saber a sua opinião sobre as escolas Waldorf.

Ana Thomaz disse...

Mariana e Sueli, as escolas waldorfs são baseadas na extensa pesquisa e experimentação de Rudolf Steiner. Sem duvida um homem genial em seus pensamentos e praticas.
Muitas coisas se sustentam até hoje e outras provavelmente ele, se estivesse vivo nos dias de hoje, faria de um modo muito diferente.
Como minha questão não é contra escola e nenhuma metodologia, e sim a favor da atualização do desenvolvimento da humanidade, me sinto inspirada por muitos pensadores e praticas mas não trago a instituição para minha vida com as crianças.
Seja qualquer conhecimento que eu tenha, eu não os coloco na frente da relação com as crianças.
Nós adultos estamos acostumados a nos colocarmos a serviço de ideias e ideias e assim repetimos com as crianças.
Nas instituições elas precisam cumprir certas coisas pre-estabelecidas para poder sustentar essa instituição e o desenvolvimento integro da criança é deixado de lado.
Sendo assim, caso a desescolarização seja institucionalizada, o que e é um risco, também será algo que irá desfavorecer a potencialização das crianças em seu crescimento rumo a vida adulta.
Portanto não é uma questão de "como" ou "o que" mas sim de quem está em relação com as crianças.