recebi da minha amiga Fernanda o artigo polemico que saiu no jornal americano sobre o modo durão de uma mãe chinesa criar suas filhas, preparando-as para uma vida bem sucedida:
“1) as tarefas de escola sempre vêm em primeiro lugar; 2) 9 é uma nota ruim; 3) seus filhos precisam estar dois anos à frente de seus colegas de classe em matemática; 4) não se deve nunca elogiar seu filho em público; 5) se seu filho discordar de um professor, você deve ficar sempre do lado do professor; 6) seus filhos devem ser autorizados a fazer apenas atividades em que algum dia possam ganhar uma medalha; e 7) essa medalha tem de ser de ouro”.
A história a seguir é um exemplo da firmeza da mãe tigre (Amy, a mãe chinesa) para ensinar sua filha mais nova, Louisa, a Lulu, a tocar uma música difícil no piano. Lulu tinha cerca de 7 anos, ainda estava tocando dois instrumentos, piano e violino, e estudava uma música que exigia ritmos diferentes em cada uma das mãos. Amy trabalhou com Lulu sem parar por uma semana, sem sucesso, até a garota declarar que havia desistido. As duas brigaram, e Lulu rasgou a partitura. Amy a colou e a pôs num plástico, para evitar que a filha a rasgasse de novo. Passou a usar ameaças diversas, inclusive doar seus brinquedos. Não adiantou. “Quando ela continuou tocando a música errada, eu lhe disse para parar de ser preguiçosa, covarde, auto indulgente e patética.”
Nesse ponto, Jed Rubenfeld, o marido de Amy, de origem judaica, questionou se os insultos e as ameaças ajudariam Lulu a tocar. “Talvez ela apenas ainda não tivesse coordenação suficiente para aquela música". Amy disse que acreditava na filha e não desistiria. “Estou disposta a dedicar tanto tempo quanto for necessário.”
Depois de longas horas de exercícios e brigas, como por mágica Lulu de repente conseguiu tocar a peça. “Mamãe, olhe – é fácil!” E não queria mais sair do piano. “Naquela noite, Lulu veio dormir na minha cama, e nos aconchegamos e nos abraçamos, apertando uma à outra”, diz Amy. “Como pais, uma das piores coisas que você pode fazer para a auto estima de seu filho é deixá-lo desistir.”
estou longe de criar meus filhos a moda chinesa, porém sou adepta as qualidades da crueldade.
antes explico que crueldade não é maldade, muito pelo contrario; a crueldade real está recheada de amor e confiança na natureza e na vida.
nietzsche escreveu: crueldade é quando o amigo se aproxima pedindo apoio pois tem uma perna machucada, e o amigo verdadeiro chuta a perna boa.
o que pensa um cara desses quando escreve isso? que o amigo, tão amado, não merece uma ação de piedade onde colocaria o amigo machucado em um lugar inferior e dependente, e sim que o amigo é nobre e cheio de condições de afirmar o acontecimento, e encarar o machucado em sua perna como uma provocação, e quem sabe um presente para aumentar suas percepções da vida e de si mesmo.
falar não para um filho é um ato de crueldade. é um ato de amor. assim também como pode ser dizer sim!
fazer o filho perceber que seu corpo pode sofrer, sua alma pode se angustiar, sua mente pode se confundir, mas o que ele tem de mais forte é a capacidade de reencontrar seu alinhamento, suas conexões primordiais, o desejo de sua potencia, e por isso o desequilíbrio é tão importante pois nos da a oportunidade de recriar, reencontrar nossas conexões, criando condição de evolução e aumento de potencia.
o truque é exercitar a crueldade a serviço da potencia, e não a serviço do poder.
o exercício não é conquistar poder e controle sobre o filho, não é educa-lo para uma realidade dura, não é perder a paciência e desabafar sobre o mais "frágil".
quando se diz não a um filho, a pergunta que está por traz é: estou dizendo não porque não quero perder o controle? Porque não confio nele? Porque não tenho tempo para dedicar-me a ele agora? Por habito?
assim vamos entendendo que também podemos dizer sim por piedade.
dizemos sim por preguiça, para não ter trabalho, por falta de tempo, porque o filho vai sofrer, vai chorar...
não tem saída, para nos responsabilizarmos pela educação de nossos filhos é preciso muito trabalho em nós mesmos.
nos escutarmos, nos questionarmos, nos aprimorarmos.
sair da piedade carregada de ódio (ódio pela vida, pelos acontecimentos, pela incerteza) e aprendermos a crueldade carregada de amor (amor pela vida, pelo acontecimento, pela incerteza).
não me parece que a firmeza da mãe tigre Amy, a chinesa, seja um ato de crueldade amorosa a serviço do desenvolvimento da potencia de suas filhas, porque ela revela que está preparando suas filhas para serem campeãs, conquistadoras de medalhas (reconhecimento), mulheres de sucesso, que preenchem exatamente o lugar em uma sociedade desqualificadora da vida espera.
mulheres que provavelmente conhecerão o sucesso colado a solidão, as conquistas cheia de vazio, o amor impaciente, e talvez chegarão a perguntar, pra que todo esse esforço? O que realmente eu conquistei?
afinarmos nossas percepções, e exercitar nosso pensamento, para escolher dizer sim ou não, mesmo que pareça cruel, porem a serviço do desenvolvimento da criança, do fortalecimento de sua potencia, do amor a vida ativa e aos seus acontecimentos.
a mãe tigresa cria suas filhas para alimentarem o sistema desqualificador da vida, mães crueis criam seus filhos, e a si mesmas, para a vida!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Ana, seus textos continuam deliciosos, cheios de sentido e sempre me oferecem uma grande inquietação e vontade de transfomração. Obrigada. Beijo grande, Erika
Ana, que cruel! Não sei se consigo contribuir num comentário. Entendo bem a mãe cruel que vc coloca... apesar de temer usar essa palavra por já ter visto muita educação CRUEL de verdade. Muita gente grande pisando em gente pequena... mas tirando isso de lado, talvez eu pudesse conversar em termos do papel que temos na vida de nossos filhos. Além de "ensinar, proteger e amar"! Hoje sinto que um dos meus maiores desafios como mãe é ser feliz! Há tanta gente infeliz na minha idade... que se meus filhos forem felizes, "tiverem desenvolvido seu potencial"... serei agradecida, e terei certeza de ter contribuído positivamente como mãe-cruel que sou. Beijos e Muitas Saudades
Ana,
Nunca tinha dado conta dessa "crueldade amorosa". Excelente, provocante. Bj,
fêdaraedolu
Não conhecia a definição de Nietzsche sobre a crueldade, mas apesar de radicalista (como quase tudo que vem dele... rs) é mt bem colocada.
Faz parte dos princípios e valores das relações humanas que temos de repensar com o tempo, tanto a nível de amizade, profissional, familiar ou paterna...
Ótimo texto!
[]'s
Postar um comentário