algumas pessoas me procuraram depois para seguir discutindo o tema da educação pelo poder e educação pela potencia
gostaria de começar falando sobre nossas praticas de poder na educação das crianças
três exemplos comuns de poder - ameaça/castigo, recompensa e explicação
exemplos da pratica desses poderes - a criança grita (em um ato mal-criado), o adulto (bem intencionado) explica: não grite meu bem... e explica o porque a criança não deveria gritar,
ela segue gritando, e o adulto (ainda bem intencionado) promete: se você parar de gritar...
a criança segue gritando, o adulto já sem paciência ameaça: se você continuar gritando...
o poder não funciona no corpo potente da criança
na situação acima, o que teremos é a revelação da impotência do adulto diante da criança, e onde há impotência, encontramos a vontade de poder
o poder está na mente que exclui o corpo, onde todo o processo racional acontece "fora" do corpo, essa mente pertence ao poder/cultura patriarcal
assim falamos, agimos e pensamos como representantes de ideias e ideais, em nome de uma cultura, de um habito, de um conhecimento
aprendemos (ou ensinamos) pelo poder quando todo o processo se da pela aquisição de conhecimento, onde acumulamos para ter mais, saber mais e poder usar mais o que se aprendeu
jorge larrosa nos ajuda a entender a pratica da vontade de poder em relação as crianças
a infância é algo que nossos saberes, nossas praticas e nossas instituições já capturaram: algo que podemos explicar e nomear, algo sobre o qual podemos intervir, algo que podemos acolher...nós sabemos o que são as crianças, ou tentamos saber, e procuramos falar uma língua que as crianças possam entender quando tratamos com elas, nos lugares que organizamos para abriga-las.
e larrosa segue com a vontade de potencia
o nascimento nos introduz num tempo em que o futuro não é consequência do passado e em que o que vem ao mundo não é dedutível do que já existe no mundo. pelo fato que constantemente nascem seres humanos no mundo, o tempo está sempre aberto a um novo começo: ao aparecimento de algo novo que o mundo deve ser capaz de receber, ainda que para recebê-lo, tenha que ser capaz de se renovar; a vinda de algo novo ao qual tem que ser capaz de responder, ainda que, para responder, deva ser capaz de se colocar em questão.
na entrevista afirmei que me propus a educar meus filhos pela potencia e não pelo poder
nem sempre consigo, mas quando acontece fica claro que esse é um caminho muito possível de ser construído e que neste momento a cultura se transforma deixando de ser cultura patriarcal e gerando a cultura biológica, chamada por maturana de cultura matristica
para educar um filho pela potencia é necessário investir no nosso corpo, não em músculos, ou postura, etc. mas um corpo de fluxos, de encontros, de acontecimentos, de devires
a potencia está no corpo, um corpo autopoietico (que se constrói a si mesmo constantemente), um corpo conectado, fluido, um corpo como encontro de forças que o atravessa
na potencia o aprendizado se da pelo corpo, pela experiência, que inclui o processo mental, assim como o emocional, o cognitivo, as percepções, a intuição... nesse processo que se da através do corpo entro em contato com aquilo que não-sei-que-sei e quando me encontro em uma situação de demanda, posso, através do encontro com a criança e a situação, criar um caminho (sempre inédito) de educação ao lado de meus filhos
o corpo potente é o corpo do paradoxo, é um corpo que não sentimos e ele está la, acordado, presente e ativo, assim como o corpo da criança que é fluido, passa de um movimento para o outro sem esforço, um corpo que não é uma prisão mas sim uma possibilidade
precisamos recriar nosso corpo (nossa cultura) para uma educação para potencia
com um corpo que liberta a vida
ps. prometo um post inteiro com exemplos práticos da educação pela potencia, pois nossos processos mentais adoram um exemplo...
2 comentários:
Hahaha... Ps. Engraçado...Sigo amando suas reflexões!
Obrigada por dividir suas experiências, nos permitindo a oportunidade de conhecer novas possibilidades e ampliar nossos horizontes...
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