23.2.10

SEGMENTANDO A VIDA

sem duvida esse é um dos problemas da vida nesse nosso sistema.

A gente segmenta tudo, vai ficando aos pedaços.
Uma mesma mulher fala que tem sua vida profissional, mas também tem sua vida pessoal que se subdivide em mãe, mulher, esposa, amiga, amante...
Seu tempo também é todo compartimentado, tem hora para trabalhar, hora para descansar, hora pra cuidar do corpo, que se subdivide em físico, cabelos, unhas, regimes, médicos, etc; e hora de cuidar da mente, junto ao terapeuta ou ao mestre de yoga, hora pra cuidar dos outros e hora pra cuidar de si.
Mas até ai tudo bem, porque a gente já se acostumou a se despedaçar por ai, a ficar na correria, e estar com a cabeça em um lugar, com o corpo em outro e o coração la longe, a gente chega a educar filho pelo telefone (isso eu já fiz!).

Só que as crianças não entendem muito esse modo de vida.
É difícil para elas entenderem que tem hora de brincar, e tem hora de estudar, o problema é que ela acha que seria mais legal misturar tudo e brincar enquanto estuda, estudar enquanto brinca.

Mas o adulto eficiente capricha e convence a criança a segmentar também.
Manda ela para aula de atividades corporais para desenvolver coordenação motora, mas no dia a dia com tantas oportunidades de afiar a coordenação da criança não da para perder tempo quando ela insiste em querer colocar a roupa sozinha e fica horas para fazer algo que um adulto resolveria em um minutinho.

A criança tem sua aula de artes para receber estímulos sensoriais, mas na hora do almoço que ela quer comer com a mão, se lambuzar, e fazer sua arte pessoal, a gente tenta evitar.

Levam a criança para fazer circo e ganhar confiança no corpo, mas é só ela se pendurar nos lugares menos inusitados ou querer entrar no carro pela janela que vai ter que ouvir aquele "para com isso menino".

Matriculam a criança na escola para que entre outras coisas ela aprenda a ter uma boa participação social, mas quando aquela menininha empurra o banquinho na beira da pia para lavar a louça e assim praticar a colaboração na vida social cotidiana da família...

Eu não sou nada contra as crianças frequentarem aulas de artes, corpo, e tudo mais, pelo contrario, senão eu não estaria inclusive desenvolvendo encontros para isso. Mas essas atividades é para levar para casa, incentivar pais e filhos a perceberem o quanto está no dia a dia o nosso desenvolvimento sensorial, motor, emocional e relacional.

Temos que deixar de ser tão eficientes, exigentes, cumpridores de tarefas e funções, para sermos mais observadores, sensíveis as possibilidades do convívio diário com as crianças, precisamos ser mais inspirados, entrar na bagunça porque da para ensinar brincando.
Talvez assim a gente não só deixe de segmentar nossos filhos como quem sabe a gente reconquista a nossa inteireza.

A vida é aqui agora e todo dia, não da pra segmentar, ela é intensa, ela é inteira.

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